domingo, 23 de outubro de 2011

Dor

A dor é uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada a lesão tecidular potencial ou real ou descrita em função dessa lesão e pode ter efeitos sérios no bem-estar físico e emocional do indivíduo. A dor geralmente está ligada a uma lesão existente num tecido. A percepção da dor é influenciada pelo estado emocional nesse momento, medo, depressão e outros factores psicológicos e sociais. A dor que se sofreu anteriormente também tem um papel na experiência da dor. 



No entanto, a dor é uma sensação necessária para o funcionamento normal do corpo, exercendo uma função protectora ao proporcionar informações relativas à localização e intensidade dos estímulos nocivos e potencialmente lesivos aos tecidos do organismo.
A condução de sensações dolorosas entre as regiões periféricas do corpo, i.e. a pele, ossos, articulações etc. e o sistema nervoso central ocorre através das fibras A-delta (mielinizadas) por um lado, e por outro lado através das fibras C (desmielinizadas). Os receptores da dor na pele reagem a estímulos como a pressão, calor e frio. Nos órgãos internos, tais como o estômago, intestinos ou bexiga, a dor é estimulada pelo estiramento, espasmos e inflamação. Os músculos esqueléticos activam os sinais da dor quando existe uma circulação sanguínea insuficiente ou quando sofreram lesão.



As fibras A de transmissão rápida enviam sinais imediatos se o corpo for ameaçado e iniciam uma reacção física imediata. 



As fibras C de transmissão lenta, por outro lado, iniciam uma dor desconfortável (contínua e latejante) que é difícil de localizar no corpo (difusa) e que dura mais tempo do que o estímulo desencadeante da dor. Esta dor é geralmente seguida por uma rigidez muscular do tipo conhecido pelos portadores de EM como o aumento da espasticidade.



O estímulo da dor é transmitido para as diferentes partes do cérebro via espinal-medula. Enquanto que os grupos de células na superfície do cérebro (cortéx cerebral) analisam os sinais de dor no que se refere à sua localização, as regiões do cérebro mais profundas (tálamo, sistema límbico), responsáveis pela consciência e reacções emocionais, processam esta informação de acordo com o seu carácter emocional. Provavelmente as sensações difusas de inércia e de dor lancinante que sentimos são um produto desta via mais lenta, bem como as sensações inespecíficas e desagradáveis associadas com a dor.



Dor neurogénica ou central

Se a lesão ocorrer na espinal-medula ou no próprio cérebro, então surge outro tipo de dor, a dor neuropática ou central. Este tipo de dor manifesta-se de várias formas, como uma sensação em queimadura, aguda, penetrante; como um choque eléctrico, dolorida, pulsátil, esmagadora; como uma dor de dentes ou como uma queimadura solar. Sendo que a pessoa tem a sensação de que a dor foi induzida na superfície da pele. Pode até criar sensações diferentes na mesma pessoa. Numa pessoa saudável, a espinal-medula tem uma função inibitória ou de filtro que actua contra a condução destes estímulos. Mas se houver lesão dos nervos, no entanto, como é o caso da EM, esta função deixa de funcionar com fiabilidade. O efeito inibitório de certos tractos nervosos deixam de estar intactos e as fibras A e C podem bombardear o cérebro com sensações desagradáveis e dolorosas. A consequência é um fluxo de informação cansativo e quase contínuo. 
Este facto explica porque é que os analgésicos convencionais não são eficazes na dor neuropática.


Possibilidades de tratamento

Apesar de ser difícil influenciar estas formas de dor central, certos tipos de anti-depressivos tais como a amitriptilina, fluoxetina e sertralina podem ser utilizados para inibir este fluxo contínuo de estímulos. O organismo produz uma substância, a serotonina, que funciona como inibidor da dor e que sob a acção destes anti-depressivos prolonga a duração da sua acção. Para além deste facto, algumas destas medicações têm também um efeito calmante, de melhoria de humor e sedativo. Os medicamentos anticonvulsivantes também podem ser eficazes ao estabilizar a membrana das células nervosas. Tais medicamentos podem ser usados principalmente durante os ataques agudos de dor como nos casos de nevralgia do trigémio, ex. carbamazepina, clonazepam, gabapentina. A utilização de cannabis é discutida noutra página.


Como é que se consegue descobrir a terapêutica para a dor ideal para cada doente?

Utiliza-se o princípio de tentativa e erro para se encontrar qual dos medicamentos acima descritos e qual a dose desse medicamento até ser atingido o efeito óptimo. Se não se verificar nenhum efeito, tem que se tentar um novo medicamento. Esta procura pode ser uma experiência desesperante para o doente e é por vezes longa e árdua, e nem sempre é resolvida com sucesso.






É muito importante informar o doente com detalhe acerca dos vários medicamentos. Se o portador de EM não sabe porque é que está a tomar um determinado medicamento pode perguntar porque é que lhe estão a ser receitados medicamentos antidepressivos ou antiepilépticos. Isto pode conduzir a interpretações erradas e a uma situação em que os medicamentos não são tomados regularmente ou durante o tempo necessário.






Em alguns casos de dor central, e de forma idêntica aos estados de dor crónica manifestados noutras doenças, os procedimentos comportamentais e psicoterapêuticos podem ajudar, incluindo métodos de sugestão e estratégias de distracção.

Quem devem os portadores de EM consultar quando sentirem dor?

Antes de mais nada, devem falar abertamente com o seu neurologista. Se não for encontrada uma solução, devem visitar uma clínica especializada na terapêutica da dor.




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